terça-feira, 21 de abril de 2009

Coelhinho Branco

Por época de seu noventa anos D.Maria tinha por melhor companhia um coelho branco, que era o xodó da velha. Por vezes até na cama o bichinho dormia. Tudo ia indo muito bem. Até que mudou pra fazenda Rita de Zé Bernardo e com ela um cachorro, que a molecada chamava de Til. O bicho era mansinho que só vendo. Vivia no terreiro. Mais só que um dia Rita viu o cachorro correndo atrás do coelho. Ele olhava o bicho e lambia os beiços. A dona logo pensou.
-Vou ter que prender esse cachorro. Se ele comer esse coelho a velha tem um troço.
E assim fez, colocou Til na coleira. Tudo ia indo muito bem. Até que um dia os meninos resolveram soltar o cachorro para irem levar o almoço do pai, que trabalhava nas plantações de milho. E não é que o cachorro apareceu no terreiro antes dos meninos. E com o coelho na boca, todo sujo de terra e de sangue e morto. D.Rita mais que depressa tomou o coelho da boca do cachorro, lavou o bicho com sabão de abacate, pôs pra quará e depois lavou com sabonete. E ele ficou branquinho, branquinho. Ela esperou secar. Foi até a janela da sala de D.Maria e pé por pé, colocou o defunto do coelho na janela. Sem nenhum vestígio do ataque do cachorro.
Quando D.Maria chegou à sala que reconheceu o corpo de seu coelho, exclamou.
-Creio em Deus padre três vezes. Esconjuro Nosso Senhor Jesus Cristo. Sangue do pai eterno tem poder. Virgem Santíssima me valha.
E falou também mais o nome de quase todos os santos da folhinha de mariana. Logo depois caiu no chão, de paletó abotoado e pé junto, mortinha da silva. Morreu de ataque cardíaco. Adevido ao susto que levou.
É que naquela manhã seu coelho tinha morrido, engasgado com uma sacola plástica. A velha mesmo foi quem fez a cova e enterrou o coelho. Tinha até colocado uma cruz com o nome do bichinho. Debrisco. E agora ele apareceu ali na janela limpo e branco tal qual alma penada em despedida pro céu dos coelhos.

Um comentário:

Especiaria da Lapa disse...

hahahahahaha

Tem estilo esse mineiro!