terça-feira, 21 de abril de 2009

Movimento Encerrado

Foi com Carrapicho que Geraldo virou freqüentador assíduo da venda de Seu Raimundo Rosa. E esse referido estabelecimento ficava no caminho entre a Esperança e Córrego São José. Era uma dessas casas onde se acha de tudo. Desde mantimentos até uma cachacinha da boa. O espaço era muito simples, não muito grande, mais simpático. Um salão, com varias estantes e caixotes com mantimentos, uma estante com as bebidas, um balcão e do lado de fora, em uma varanda de meia parede, uma mesa de sinuca e uns bancos de madeira. Só tinha um detalhe, a venda era meio suja e cheia de teias de aranha. Quando alguém reclamava da sujeira Seu Raimundo Rosa dava um sorrisinho de lado e dizia.
-Cê bobo sô, quanto mais sujeira mais dinheiro.
Toda a noite, a caminho da venda, ao passar em frente á fazenda de Juquinha de Assis, Geraldo levava um galope de dois cachorros amarelos. Era toda noite a mesma coisa.
Um dia ao chegar à venda Geraldo falou pra Zezinho, que era filho mais moço de Juquinha de Assis.
-Ô Zezinho, cê podia dar um jeito de prender aqueles cachorros. Que todo dia eles tão me galopeando por essas estradas. E isso não ta certo não.
E com deboche Zezinho falou.
-Que isso homem de Deus os bichos são mansinhos, mansinho. Além do mais não comem carne de segunda.
E essa não foi a única vez que Geraldo fez o alerta não. Mas sempre a resposta vinha com deboche.
Então na sexta-feira quando Carrapicho foi até a cidade, levar umas galinhas pra vender, Geraldo fez uma encomenda.
-Ô Carrapicho, ce pega aqui esse dinheiro e passa na farmácia do Francisquinho e me traz meia dúzia de bala, pra revolver 38. Vá lá, que lá é certeiro que tem.
Carrapicho ficou meio assustado, mas atendeu o amigo sem perguntar nada. E naquela noite Geraldo carregou seu 38, pôs na cintura e partiu em direção à venda. Quando passou em frente à fazenda não deu outra. Os dois cachorros vieram latindo. E foi um tiro pra cada um. Certeiro. Na cabeça. E esses não incomodam mais ninguém.
Geraldo chegou à venda e pediu a Seu Raimundo uma dose de cachaça, depois outra. E ficou por ali sentado num banco e proseando. Não tardou muito e apareceu Zezinho, que já foi falando.
-Ô Geraldo! Faz favor. Chega inté aqui homem.
Geraldo saiu do lado de fora da venda e Seu Raimundo Rosa foi atrás, já prevendo confusão.
-Pois não Zezinho.
-Que história é essa do senhor matar meus dois cachorros. Posso saber.
-Gente vamos deixar de confusão.
Falou Seu Raimundo.
-Ô Zezinho eu vou te falar uma coisa rapaz. Do revolver que matou aquelas duas peste ainda tem mais quatro balas. E se eu gastar uma delas com você vai ser mais bem gasto. Porque o cachorro é bicho inocente e você não vale nada.
E sacou a arma.
Nesse momento Zezinho sumiu na estrada e Seu Raimundo Rosa deu um mergulho na meia parede, rolou por cima da mesa de sinuca, entrou pra dentro da venda e deu o movimento por encerrado.

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